Número 18 / DICIEMBRE, 2022 (213-228)
AS PAISAGENS NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ARQUEOLÓGICO
LANDSCAPES IN THE HISTORY OF ARCHAEOLOGICAL
THOUGHT
LOS PAISAJES EN LA HISTORIA DEL PENSAMIENTO
ARQUEOLÓGICO
DOI:
Artículo de Reexión
Recibido: (25/03/2022)
Aceptado: (26/07/2022)
https://doi.org/10.37135/chk.002.18.15
Professor Ocasional Universidad Nacional de
Chimborazo, Riobamba, Equador, Doutorando em
Arqueologia, Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade de São Paulo, Brasil
alex.alves@unach.edu.ec
Alex De Barros
AS PAISAGENS NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ARQUEOLÓGICO
Número 18 / DICIEMBRE, 2022 (213-228) 214
AS PAISAGENS NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ARQUEOLÓGICO
LANDSCAPES IN THE HISTORY OF ARCHAEOLOGICAL
THOUGHT
LOS PAISAJES EN LA HISTORIA DEL PENSAMIENTO
ARQUEOLÓGICO
Entendendo a arqueologia como a mais interdisciplinar das ciências, esta associada a
consolidação de um recente arcabouço teórico e de métodos próprios ajunto a necessidade
incondicional de associar os conceitos propostos à prática, o presente artigo tem como
proposta tecer uma breve discussão sobre o conceito de arqueologia da paisagem e seus
desdobramentos no que diz respeito a história do pensamento arqueológico. Por meio de
uma correlação e descrição arqueográca entre as diferentes escolas, conceitos e seus
principais autores, apresentaremos um panorama geral do uso dos conceitos das paisagens
no âmbito da interpretação dos contextos de interação entre humanos, meio ambiente e
materialidade, assim como sua problemática e alcance no escopo de atuação da arqueologia
brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia da paisagem, lugares, teoria e método, história do
pensamento arqueológico, arqueologia brasileira
Understanding archeology as the most interdisciplinary
of sciences associated with the consolidation of a current
theoretical framework and its methods, together with the
unconditional need to associate the proposed concepts
with practice; this article proposes to weave a brief
discussion on the concept of archeology of the landscape
and its unfolding concerning the history of archaeological
thought. Using an archaeological correlation and
description between the dierent schools, concepts, and
their main authors, we will present an overview of the use
of landscape concepts in the context of the interpretation of
the contexts of interaction between humans, environment,
and materiality, as well as its problematic and range
within the scope of Brazilian archeology.
KEYWORDS: Landscape archeology, places, theory
and method, history of archaeological thought, Brazilian
archeology
Entendiendo la arqueología como la más interdisciplinar
de las ciencias, está asociada a la consolidación de un
reciente cuerpo teórico y de métodos propios, junto a
la necesidad incondicional de asociar los conceptos
propuestos con la práctica, el presente artículo se
propone tejer una breve discusión sobre el concepto
de la arqueología del paisaje y su desdoblamiento con
respecto a la historia del pensamiento arqueológico.
Mediante una correlación y descripción arqueográca
entre las diferentes escuelas, conceptos y sus principales
autores, se presenta un panorama del uso de los conceptos
de paisaje en el contexto de la interpretación de los
contextos de interacción entre humanos, medio ambiente
y materialidad, así como su problemática y alcance en el
ámbito de la arqueología brasileña.
PALABRAS CLAVE: Arqueología del paisaje, lugares,
teoría y método, historia del pensamiento arqueológico,
arqueología brasileña
RESUMO
ABSTRACT RESUMEN
Alex De Barros
CHAKIÑAN. Revista de Ciencias Sociales y Humanidades / ISSN 2550 - 6722 215
INTRODUÇÃO
Sob a perspectiva da arqueologia, independente
do assunto a ser tratado no que diz respeito
a interpretação dos diferentes contextos e
materialidades de uma maneira intencional
ou não, a problemática das paisagens sempre
fará parte de qualquer premissa, entendendo as
dimensões espaciais/geográcas e temporais
inerentes as paisagens recorrentes nas discussões
arqueológicas. Os conceitos intrínsecos a
paisagem como ambientes, ecologia, recursos,
espaços e lugares, foram tratados de diferentes
maneiras, sob a ótica das diferentes escolas e
concepções da arqueologia enquanto ciência.
A arqueologia do século XXI caracteriza-
se por ser tanto uma atividade laboral
de campo, como uma busca intelectual
cientíca e laboratorial. Tem como
principal objetivo o estudo dos variados
sistemas socioculturais, que abrangem
desde sua gênese estrutural, mecanismos
e dinâmicas em relação a permanências,
mudanças e transformações culturais
no decorrer do tempo e espaço, noções
do comportamento humano em relação
ao ecossistema, paisagens e fenômenos
que intermedeiam essas relações, tendo
como fulcro o estudo da cultura material
evidenciada em contextos de interação
humana. (De Barros 2018:20)
Nesta perspectiva, a arqueologia contemporânea
entendida como a mais interdisciplinar das
ciências (Araujo 2019; Bicho 2011), se apresenta
como uma disciplina humanística e histórica,
atuando exitosamente como uma ciência
social relacionada as ciências da terra, e mais
recentemente acompanha o desenvolvimento
das inovações atômicas introduzidas ao campo
acadêmico a partir da metade do século XX,
resultando em um importante acercamento às
ciências físicas e químicas.
Apesar de sua jovialidade no que diz respeito a
consolidação de seu corpus teórico e de métodos
próprio, num lócus de pouco mais de um século
de prática da famigerada história do pensamento
arqueológico (Trigger 2004), é possível identicar
e caracterizar o arcabouço de compreensões
sobre a adoção das paisagens arqueológicas para
a elucidação dos espaços ocupados e adaptados
pelas práticas socioculturais e comportamentais
humanas.
Com uma assertiva orientação das ciências
geográcas e ambientais (Morais 2011, 2012;
Wagner 1972), passando por uma ampliação e
desenvolvimento da ciência por meio do uso
de tecnologias espaciais e de sistematização
de dados (Binford 1962; Clarke 1972), mais
recentemente, adjunto ao novo caráter holístico
da ciência arqueológica, temos um acercamento
a premissas antropológicas, fenomenológicas e
comportamentais (Cosgrove 1984; Ingold 2001;
Zedeño & Bowser 2009; Kormikiari 2014), a
questão das paisagens ou paisagens culturais
possibilitou uma melhor compreensão da relação
da interação contínua entre humanos, ambientes
e materialidade.
METODOLOGIA
No presente artigo de reexão tecemos um
panorama geral relacionado a paisagem
enquanto paradigma teórico em relação ao seu
desdobramento na prática arqueológica, levando
em consideração sua evolução enquanto conceito
e seus diferentes entendimentos, escolas e
principais autores, trazendo como principais
referências Binford (1962, 1978, 1980, 1983),
Kormikiari (2014), Schlanger (1992), Zedeño
(2008) e Zedeño e Bowser (2009).
Em uma organização metodológica que valora
o enfoque qualitativo permeando a revisão
da literatura especializada e suas principais
problemáticas, interpretações e signicados, com
desenho de investigação de narrativa sistemática
(Hernández, Fernández y Baptista 2014),
onde explicaremos os diferentes processos e
fenômenos vinculados à aplicação do conceito
de paisagem em relação a ciência arqueológica.
AS PAISAGENS NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ARQUEOLÓGICO
Número 18 / DICIEMBRE, 2022 (213-228) 216
Ocorrendo uma clara linearidade histórica sobre
o desenvolvimento da temática, organizamos o
presente manuscrito com a proposta de apresentar,
correlacionar y contextualizar os principais
períodos, autores, escolas e epistemologias que
trabalharam com a terminologia das paisagens
ou ans, discutindo e reexionando sobre
suas premissas, e por m, teceremos um breve
panorama de atuação e possíveis caminhos para
a sequência da temática em seu campo prático e
teórico na arqueologia brasileira.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Independente da corrente teórica ou premissa
seguida, a arqueologia da paisagem hoje pode
ser considerada como um conceito unanime
aceito pelos acadêmicos (com alguma formação
em arqueologia), sendo possível vericar pelo
menos um capítulo dedicado a temática nos
diferentes clássicos manuais da disciplina
(Trigger 2004; Bicho 2011; Price & Knudson
2018; Renfrew & Bahn 2004), e apesar de sua
ampla disseminação enquanto premissa teórica e
por vezes metodológica, é factível vericar uma
ampla problemática no que diz respeito a sua
discussão entre as diferentes escolas e premissas
epistemológicas, possivelmente inerentes a
ausência de diálogos entre os diferentes grupos,
assim como por uma eventual barreira imposta
pelo idioma.
A PAISAGEM NA HISTÓRIA DO
PENSAMENTO ARQUEOLÓGICO
Apesar de se tratar de uma premissa que vai além
de caracterizar um background onde as relações
humanas são tecidas (Ashmore & Knapp
1999; Zedeño & Bowser 2009; Ingold 2001), a
terminologia arqueologia da paisagem gura os
jargões clássicos das temáticas da arqueologia
mais recentemente (Fleming 2006; Kormikiari
2014).
Ademais de ainda ser considerada uma área
auxiliar ou secundaria (Morais 2011, 2012),
segue a premissa de uma arqueologia de campo
e a partir do manuscrito de Hoskins publicado
originalmente em 1955 com o título The Making
of the English Landscape (Hoskins 2013) vemos
a temática propriamente em pauta, resultando
a cunhagem do conceito a partir da publicação
Landscape Archaeology: In introduction to
ldword techniques in Post-Roman landscape
em 1974 por Mick Aston e Trevor (1974)
(Kormikiari 2014).
A arqueologia da paisagem toma distintas
interpretações dependendo do autor, escola
e período, não obstante, a temática deve ser
entendida nas entrelinhas pois mesmo ocorrendo
a ausência de sua conguração conceitual nos
períodos iniciais da arqueologia, não se pode
ignorar sua intrínseca presença no que diz
respeito a interpretação dos lugares e as pessoas,
adotando premissas da geograa e das ciências
da terra, a paisagem se caracteriza como uma
construção social (Santos 1994, 1996a, 1996b,
1997) e deve ser entendida dentro desta dinâmica.
Uma Arqueologia da Paisagem, ou do Lugar,
impõe a interdisciplinaridade e o diálogo
com perspectivas teóricas distintas. Mas
o que são paisagens? e como a abordagem
paisagística pode facilitar a compreensão
dos processos históricos e culturais na
Arqueologia? Neste sentido, a abordagem
da paisagem é relevante para o objetivo da
Arqueologia de explicar o passado humano
por meio de sua habilidade em reconhecer
e avaliar as relações interdependentes e
dinâmicas que as pessoas mantêm com as
dimensões física, social e cultural de seus
meio-ambientes ao longo do tempo e do
espaço. (Kormikiari 2014:5)
As paisagens, concebidas como lugares
signicativos, adaptados, biográcos e
econômicos, exercem relações entre os seres
humanos e o ambiente por intermédio da
cultura material ou da materialidade, está é uma
premissa básica para a compreensão do ser e
estar na paisagem, da qual, é possível vericar
e caracterizar sua assinatura (Gould 2009; De
Barros 2021).
Alex De Barros
CHAKIÑAN. Revista de Ciencias Sociales y Humanidades / ISSN 2550 - 6722 217
Estes fenômenos são passíveis de identicação
desde as primeiras formas de organização
social, seja por meio da adaptação de ambientes
especícos para a realização de manifestações
rupestre (Finlayson & Warren 2018; Cummings,
Jordan & Zvelebil 2014), por períodos de
domesticação destas paisagens iniciadas por
processos de sedentarizarão (Fleming 2006; Lau
2010; Zedeño 2008), até a ampla modicação
destes meios, comuns as sociedades mais
hierarquizadas e com processos de urbanização
(Adams 1989; Zedeño & Bowser 2009), nos
permite armar que a relação destes grupos com
o meio vai além de uma questão econômica.
In addition to agricultural elds
and farming techniques, the Anasazi
technological repertoire included domestic
structures, storage facilities, agricultural
processing facilities, eld camps from
which wild resources and raw materials
were collected, and the tools needed for
planting, harvesting, processing, and
preparing a wide variety of foods. The
Anasazi established at least two types of
facilities on the landscape: habitation loci
and limited activity loci. Previous work
(Schlanger & Orcutt 1986) suggests that
habitation loci were used as residential
components and were the site of several
features including domestic structures,
substantial shelters for inhabitants and for
storing goods, and facilities for carrying
out personal maintenance activities
including food preparation, storage,
consumption, tool manufacture, tool repair,
and other activities associated with living
at a residential base. (Schlanger 1992:97)
Quiçá, antes mesmo de conceber a arqueologia
como ciência, este fenômeno tem sua
aplicabilidade conrmada na história do
pensamento arqueológico, do qual, temos o
período dos colecionistas e dos gabinetes de
curiosidades como uma primeira possibilidade
da aplicação das questões da paisagem.
Mediante a organização de espaços e
classicações materiais de acordo a uma
incipiente tipologia, cronologia e origem
geográca, acorre uma reconstrução em muitos
casos hipotética de uma paisagem controlada, e
outras pouco mais realistas, com a reconstrução
de espaços etnográcos contemporâneos a estas
práticas (Impey & Macgregor 2001; Trigger
2004; Figueiredo e Vidal 2013).
Mesmo que seja uma premissa meramente
ilustrativa, é possível identicar uma natural
necessidade em associar os materiais a suas
paisagens originais com o objetivo de consolidar
possíveis narrativas para esta dinâmica,
vericando uma aproximação a história da
arte, que precisamente constitui as pinturas de
paisagens ou landscape painting como gênero
artístico na Europa por volta do século XVII
(Cosgrove 1984; Gombrich 2019).
Seguindo esta sequência histórica, a prática
arqueológica do século XVIII expande
sua dimensão colecionista à grande busca
de relíquias do passado, em muitos casos,
interpretando e reinterpretando documentos
clássicos para o descobrimento (evidencia)
de cidades perdidas ou da reconstrução de
dinâmicas históricas do passado mediante
a busca e escavação de sítios mitológicos,
nascendo nesta ocasião a arqueologia clássica,
como é o caso das escavações em Herculano e
Pompeia (Rodríguez 2011).
Neste sentido, estes primeiros trabalhos também
apresentaram o conceito de paisagem atrelado
a uma representação simbólica/mitológica e
ambiental meramente descritiva dos seus locais
de origem, uma vez más vemos a representação
da historia da arte como eixo interpretativo.
Logo da breve descrição dos primeiros
momentos da pratica arqueológica amadora ou
incipiente, para o século XIX e XX, ocorre uma
ampla consolidação da ciência arqueológica em
relação as técnicas de campo e interpretações
dos contextos arqueológicos (Wheeler 1955,
1979; Woolley 1940; Kenyon 1957, 1971). Nesta
conjuntura, as ciências da terra passam a gurar
o corpus teórico e metodológico da arqueologia,
dando início a interdisciplinaridade da disciplina
junto a outras ciências, em especial da geograa
e da geologia (Vita-Finzi & Higgs 1970; Roper
1979).
No arcabouço do desenvolvimento da arqueologia
histórico culturalista, temos os primeiros intentos
de reconstrução das paisagens antigas e da
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designação da importância de nichos ambientais
especícos que possibilitaram a consolidação
dos primeiros grandes assentamentos humanos,
para logo, as primeiras urbanizações e cidades.
Seguindo este programa interpretativo, se
destacam os trabalhos de Childe (1950, 1973,
1978, 1981) com estudos sobre a pré-história
europeia e do oriente médio mediante a
adoção de noções marxista sobre questões de
estruturas sociais e do materialismo histórico,
consolidando-se importantes paradigmas, como
as revoluções culturais (Neolítica e Urbana) que
perpassando o entendimento das continuidades e
mudanças culturais.
A questão de ambientes que conguraram o
sucesso dessas revoluções, como a identicação
de enclaves-chave para os desenvolvimentos
de sociedades agrícolas (Zedeño & Bowser
2009) e questões incipientes de domesticações
vegetais, mesmo não utilizando a terminologia
das paisagens, é possível vericar indícios de
questões de lugares persistentes, paisagens
sagradas e lugares signicativos em sua
concepção econômica (Cosgrove 1984;
Schlanger 1992; Trigger 2004).
Persistent places are places that were
repeatedly used during long-term
occupations of regions. They are neither
strictly sites (that is, concentrations of
cultural materials) nor simply features
of a landscape. Instead, they represent
the conjunction of particular human
behaviors on a particular landscape.
Persistent places fall into one or more of
the following categories. First, a persistent
place may have unique qualities that make
it particularly suited for certain activities,
practices, or behaviors... Second, a
persistent place may be marked by certain
features that serve to focus reoccupations.
(Schlanger 1992:97)
É notável uma agenda acadêmica singular
anglo-saxônica para os exemplos a pouco
apresentados, o que não ausenta a presença de
outros grupos europeus, ocorrendo um destaque
as premissas da escola francesa neste escopo.
Ainda no século XVIII, surge um interesse
motivado pelas viagens de naturalistas as
colônias, em especial as americanas, sobre
aspectos tecnológicos, materiais e sociais
destas de culturas contemporâneas em relação
a materialidade europeia pretérita (Pelegrin
2020). A observação e descrição destas exógenas
paisagens visitadas, geraram inquietações e
premissas para o entendimento da relação desta
beleza virgem natural como um condicionante
as formas de vida ancestrais.
Avançando na cronologia de atuação da escola
francesa, frente a adoção de um arcabouço
teórico e metodológico da sociologia em
especial junto aos trabalhos de Durkheim (1990,
1997) e Mauss (2003, 2008), no campo da
arqueologia temos a adoção da peleoetnograa
promovida por Leroi-Gourhan (1950, 1964a,
1964b, 1972), incorporando uma perspectiva
técnica, comportamental, econômica, espacial
e sociocultural as interpretações, ocasionando
o desenvolvimento do conceito da chaîne
opératoire.
Este conceito perpassa o entendimento da
existência de uma intrínseca relação entre o
comportamento humano e a cultura material,
intermediada pelas dinâmicas ambientais,
que mais do que fazer plano de fundo a estas
dinâmicas, são responsáveis pela existência das
mesmas, seguidas por outras compreensões no
escopo das econômicas das paisagens, como o
conceito économie du débitage et économie des
matières premières proposto por Perlès (1980).
Ainda que não ocorra uma direta citação da
terminologia das paisagens, para Leroi-Gourhan,
não é possível compreender a dimensão cultural
sem levar em consideração a relação das
populações pretéritas com a paisagem/ambiente,
como um delineador das histórias humanas de
longa duração, onde as manifestações humanas
são traduzidas pela materialidade, que por sua
vez são produto do comportamento humano,
organizadas dentro de um sitio e seu entorno que
propiciam a consolidação de comportamentos
técnicos sociais.
Os programas a pouco apresentados se tratam de
iniciativas de investigadores europeus, e parte
desta concepção acompanha o panorama social
destes contextos, em grande parte colonialista e
notavelmente particularista no que diz respeito
Alex De Barros
CHAKIÑAN. Revista de Ciencias Sociales y Humanidades / ISSN 2550 - 6722 219
ao outro (Dmitriev 2009; Hamilakis 2016;
Silliman 2015).
Os eventos que procedem esta dinâmica estão
associados ao nal das colônias e a expansão
econômica de novas potencias, como é o caso
dos Estados Unidos, que passa a rivalizar os
antigos centros de produção de conhecimento,
quiçá com um olhar mais próximo as alteridades
locais.
Acompanhando os grandes avanços da ciência
com as teorias evolucionistas consolidadas
por Darwin e com a valoração dos estudos
etnográcos em diferentes partes do mundo,
perguntas originadas nestes contextos começam
a chamar a atenção e a arqueologia também
segue esta premissa para formular seu arcabouço
interpretativo (Zedeño 2008; Zedeño & Bowser
2009).
Orientados por esquemas antropológicos
evolutivos sobre as paisagens (Morgan 1877;
Tylor 1958; 1971; White 1959), acompanhando
as premissas das ciências biológicas, novos
esquemas evolutivos e sistemáticos foram
aplicados a arqueologia, em grande parte
com estudos realizados no continente
americano com o enfoque na compreensão do
desenvolvimento das sociedades em relação ao
grau de desenvolvimento, fatores ambientais que
condicionam ou impulsionam uma dita evolução
cultural.
Para estas premissas se destacam os conceitos
de fronteiras culturais mediante o diagnóstico
de ecótonos, complexos sociobiológicos
e parâmetros ambientais que regulam as
sociedades, com o exemplo mais clássico das
limitações ambientais (paisagens inóspitas
ou não favoráveis ao desenvolvimento de
sociedades complexas, paisagens condicionantes
!?) permeadas pelo determinismo ecológico e a
ecologia cultural em especial aplicadas para as
terras baixas amazônicas (Evans & Meggers
1968; Meggers 1942, 1971, 1990; Meggers
& Evans 1957) e as terras baixas maias e
Mesoamérica central (Armillas 1949, 1950;
Sears 1951; Palerm 1954, 1955; Bullard 1960;
Sanders 1962, 1965).
A arqueologia moderna foi delineada a partir
esquemas neoevoluciostas, neopositivistas e em
especial com a aplicação do modelo nomológico-
dedutivo ou empiricista de Hempel (Araujo
2019), que é complementado pela adoção de
novas tecnologias originadas no contexto pós
segunda guerra mundial, datações absolutas,
tecnologia espacial, analises biológicas e
ambientais em edição a uma sistematização
excessiva do registro arqueológico, dão origem
a denominada New Archaeology, ou arqueologia
processual, encabeçada por Lewis Binford.
A Nova Arqueologia surge como uma crítica
aos anteriores modelos teóricos, em especial
ao histórico culturalismo, assim como pelo
seu grande afã de cada vez mais consolidar a
arqueologia como uma ciência independente
e relacionada a antropologia (Binford 1962,
1978, 1980, 1983), justicando a necessidade
de sistematizar e transformar o registro
arqueológico em dados passiveis de mensuração
e modelação (Trigger 2004).
Neste escopo, surge um desdobramento
sobre o conceito de paisagens arqueológicas
e possivelmente este seja o primeiro de uma
virada ontológica amplamente destrinchada pela
arqueologia pós-processual. Segundo Zedeño
e Bower (2009), no âmbito do positivismo que
acompanhou o advento da New Archaeology,
alguns aspectos das dinâmicas da natureza
humana foram negligenciados, onde muitas
das premissas propostas estão elencadas ao
programa de atuação da geograa positivista,
mais preocupada em utilizar ferramentas
quantitativas e analises espaciais em vez da
relação das paisagens culturais.
Although human ecology and cultural
geography have had a great impact on
anthropological theory since the 1930s
(Steward 1955; Steward and Seltzer
1938; Wedel 1941, 1953), the positivism
that accompanied the advent of the New
Archaeology initially bypassed numerous
aspects of human-nature dynamics for
those most likely to create a conspicuous
material record (Binford 1962). At that
time, positivist geographers who favored
quantitative tools of spatial analysis over
the not-so-easily delimited and measured
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cultural landscapes also made important
inroads in archaeological research.
(Zedeño & Bower 2009:2)
Binford com a publicação do artigo The
Archaeology of place (1982) foi o pioneiro
a propor uma interpretação do conceito de
lugar, argumentando que, até que voltemos a
proporcionar um séria atenção para o projeto de
métodos conáveis para monitorar as condições
de interesse do passado (reconstruções
paleoambientais), não seremos capazes de
abordar questões fundamentais por meio da
investigação de vestígios arqueológicos, sendo
necessário voltar a atenção analítica para o
papel dos diferentes lugares na organização dos
sistemas culturais (Zedeño & Bowser 2009).
Com a premissa de novos olhares ao espaço
habitado, de maneira geral a arqueologia
processual permitiu uma melhor compreensão
da inserção e interação dos seres humanos
nas paisagens, com a preposição de que os
lugares são representativos e mais do que
condicionar, proporcionam novas dinâmicas
nos sistemas culturais, delineando e compondo
respostas ao comportamento humano mediante
a materialidade, a modicação e adaptação na
paisagem. É importante ressaltar que o caráter de
uma ciência dura (Hamilakis 2016) que implica
dados quantitativos, possivelmente limitou de
maneira atenuante a consolidação de novas
perspectivas para a relação do comportamento
humano e o meio.
No âmbito da compreensão dos lugares, Basso
(1996) tece considerações importantes para esta
virada ontológica, ao inferir a intrínseca relação
entre a identidade, trajetória, memória e noção
de pátria atribuída aos lugares, onde a história
humana, quanto ambiental e material, reside no
conhecimento oriundo do viver a história nestes
lugares (Zedeño 2008; Zedeño & Bowser 2009).
Neste sentido, é na arqueologia pós-processual
que o conceito de paisagem ganha corpo, pratica e
discussão, acarretada pela premissa de um século
XX e XXI permeado por câmbios na forma de
ver o outro (acompanhando o desenvolvimento
da ciência antropológica e sua relação intrínseca
ao fortalecimento epistemológico da ciência
arqueologia, em casos entendida como uma
ciência em comum).
Estes novos olhares permitem uma melhor
noção do colonialismo em todas suas facetas,
e a necessidade de entender as dinâmicas dos
fenômenos do comportamento humano mediante
a uma interdisciplinaridade mais holística,
com uma certa crítica ao núcleo estático e
duro constituído e defendido pela arqueologia
processual (Trigger 2004).
Importantes considerações são tecidas neste
contexto, partindo da busca de denir uma
ampla agenda intelectual e política neste escopo,
trazendo em pauta a necessidade de que o
arqueólogo seja mais do que um investigador
distante de seu objetivo de estudo, mas que
tenha noção da necessidade de agir como um
sujeito inerente as dinâmicas e problemáticas
de seu objeto de estudo. Como exemplo destas
praticas temos a atuação junto as comunidades
tradicionais/indígenas ou que preservam os
saberes ancestrais em seu cotidiano, minorias
étnicas e outras que foram negligenciadas até
então (Colwell-Chanthaphonh 2009; Ingold
2001; Zedeño & Bowser 2009).
Este programa mais holístico entorno as paisagens
e lugares se preocupa em descrever e explicar
como determinados lugares são compostos de
elementos-chaves para a compreensão de como
os espaços sociais são construídos, cambiados
e preservados, incorporando facetas biológicas,
topográcas, geopolíticas, ideológicas,
cosmológicas, de memórias e mnemônicas do
lugar, compreensões sobra a dinâmica das redes
entre os lugares, lugares e as paisagens e estes
e por m representam a intrínseca relação das
paisagens e a consolidação do comportamento
humano (Zedeño & Bowser 2009).
Um importe feito ponderado pela virada
ontológica sobre a teoria arqueológica no que
diz respeito as paisagens correspondem a noção
de colonialismo e do pós-colonialismo nos
estudos de grupos pretéritos e recentes. Estas
premissas se encontram atreladas as novas
concepções de paisagem (Cosgrove 1984;
Colwell-Chanthaphonh 2009; Hamilakis 2016;
Ingold 2001; Zedeño & Bowser 2009), gerando
um importante e inovador programa conceitual,
Alex De Barros
CHAKIÑAN. Revista de Ciencias Sociales y Humanidades / ISSN 2550 - 6722 221
uma miscelânea de novas perspectivas teóricas
sobre os lugares persistentes (Shcalanger
2012), lugares signicativos (Zedeño 2008;
Zedeño & Bowser 2009), lugar, memória e
metáfora (Zedeño & Bowser 2009), espirito
dos lugares (Driessen 2010), da temporalidade
das paisagens e a percepção do meio ambiente
(Ingold 2001), paisagens políticas (Smith 2011),
uma arqueologia da soberania que reete a
organização dos grupos humanos na paisagem
(Smith 2011), questões de memória, mobilidade
e do trabalho colaborativo nas paisagens
herdadas ou roubadas (Silva & Noelli 2015).
ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM
NO CONTEXTO BRASILEIRO
Para a arqueologia brasileira, o tema das
paisagens não foi negligenciado, sendo
necessário levar em consideração que grande
parte das iniciativas teóricas propostas para o
contexto brasileiro, em um primeiro momento,
seja para a formação de novos prossionais ou
da realização de projetos regionais, é oriunda de
adaptações de premissas teóricas e de métodos
de escolas europeias (Inglaterra e França)
e estadunidenses, com grande expressão da
participação da escola francesa e da escola norte
americana em especial (Barreto 2000).
Este panorama de formação deve ser visto com
bons olhos, que esta múltipla formação permite
aos prossionais da arqueologia um leque de
opções metodológicas e conceituais que melhor
pode se adaptar ao contexto a ser estudado.
Um consenso no que diz respeito a alteridade
do registro arqueológico americano, em especial
o brasileiro, gira em tordo da consolidação de
novas possibilidades de entender as paisagens
e suas implicações sobre o comportamento
humano e a materialidade, o que possibilitou
uma ampla quantidade de estudos que propõem
novas perspectivas, como é o caso dos estudos
realizados na Amazônia brasileira (Brochado
1980, 1984; Heckenberger 1996; Neves 2020;
Roosevelt 1980, 1991), proporcionando novas
interpretações sobre a relação das populações
indígenas pré-coloniais e pós-coloniais com o
lugar, em um complexo meio de domesticação,
adaptação, manejo e modicação das paisagens.
Na última década, projetos regionais
proporcionam uma aproximação e reconstrução
dos modos de vida e das dinâmicas socioculturais
dos povos indígenas do Brasil em período
pré-colonial, colonial e pós-colonial (seja por
intermédio do estudo da cultura material e seus
contextos ou mediante a análise dos registros
etnográcos e a atuação do trabalho etnográco
de campo ou etnoarqueológico) em relação aos
diferentes biomas e paisagens do país.
Destacamos a atuação dos trabalhos do
Laboratório de Arqueologia e Estudo da
Paisagem da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (LAEP/
CEGEO/ICT/UFVJM), coordenado pelo Dr.
Marcelo Fagundes, (Fagundes, Kuchenbecker,
Vasconcelos & Gonzaga 2020).
Territorialidades ameríndias no Alto Vale do
Itajai, com a preposição de um olhar a partir da
Arqueologia, da Ecologia e da Paleontologia,
coordenados por Juliana Machado, Lucas Bueno,
Nivaldo Peroni e Patricia Hadler e o Projeto
Paisagens Meridionais: ecologia, história
e poder numa paisagem transicional durante
o Holoceno tardio, Museu de Arqueologia
e Etnologia da Universidade de São Paulo,
coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Antônio Dantas
de Blasis (Corteletti et al. 2014).
Também temos outros projetos que por mais
que não tenham a cunhagem da terminologia
das paisagens em seu título principal, aplicam
diferentes abordagens sobre as paisagens que
dão corpo às interpretações dos registros,
contextos, dinâmica, e práticas arqueológicas,
como é o caso do projeto arqueológico Quebra
Anzol, Minas Gerais, MAE-USP, coordenado
pela Professora Dra. Marcia Angelina Alves
desde a década de 80 (Alves 2009; De Barros
2018).
Outra exitosa propostas diz respeito a realização
da arqueologia colaborativa, a interpretação de
contextos etnográcos e sua relação com os
lugares do passado, com destaque aos trabalho de
AS PAISAGENS NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ARQUEOLÓGICO
Número 18 / DICIEMBRE, 2022 (213-228) 222
Silva (2008, 2013) e Silva e Noelli (2015) junto
aos grupos Asurini do Xingu, onde foi possível
estabelecer complexas reconstruções históricas
destes grupos, involucrando momentos de
transformações sociais, tecnologia ancestrais,
deslocamentos, conitos e reminiscências com
esta história de longa duração, onde segundo
Silva:
No entanto, desde 1982, ocorreram muitas
mudanças na chamada arqueologia do
lugar. Na atualidade, vários autores se
dedicam a estudar os lugares para além de
seus signicados em termos de organização
e logística sócioeconômica. Os lugares
assim como as paisagens passaram a
ser entendidos como signicativos,
adjetivados de várias maneiras (p.ex.
sagrados, perigosos, tradicionais, culturais)
e estudados em termos de suas biograas,
signicados metafóricos e metonímicos,
políticas, lógicas, redes, transformações e
persistências. (Silva 2013:31)
Esta nova forma de lidar com as paisagens
entorno as problemáticas e alteridades locais,
possivelmente também serviu de base para
a aplicação de tais conceitos em contextos
exógenos, como é o caso da aplicação teórica e
metodológica das paisagens para a arqueologia
clássica (Kormikiari 2014), da Mesoamérica
(Arcuri 2017; França 2007, 2009, 2010) e dos
Andes (Arcuri 2009, 2012), desenvolvida
desde a distância ou com visitas e trabalhos
arqueológicos de campo e analises de cultura
material in situ esporádicos.
CONCLUSÕES
É digno de ressalva que este ensaio apresenta
suas limitações em relação ao estilo da
publicação, do espaço destinado e da quantidade
de autores descritos, assim como outras
importantes escolas e epistemologias da teoria
arqueológica que tampouco foram citadas, como
a arqueologia soviética, a arqueologia alemã e
outros campos de produção do conhecimento
secundários. Dentre os campos secundários
ocorre destaque a produção de conhecimento
do oriente de modo geral e da Península Ibérica,
sendo necessário destacar a este último contexto
a extensa produção relacionada as paisagens
propostas por Criado-Boado (1991, 1995,
1999), com premissas da geograa e miradas
holísticas da ciência entendendo a paisagem
desde uma realidade empírica, sociológica e
culturalista (1991, 1995) que deve ser analisada
desde a preposição e uso de métodos de análise
da paisagem (1995, 1999), sem embargo,
seu contexto de difusão e uso está restrito a
escala local e regional de países com cercania
a realidade linguística do autor, com presença
diminuta no contexto brasileiro.
Com esta premissa, optamos pelo recorde às
correntes mais reproduzidas a nível mundial,
e aquelas que seguem sendo difundidas no
Brasil, e que sem dúvida, foram responsáveis
pela formatação do lócus de produção do
conhecimento atual.
Não obstante foi possível ponderar alguns
delineamentos, em primeiro lugar, ocorre uma
linearidade em relação a utilização do conceito
da arqueologia da paisagem, que nasce como
uma premissa meramente ilustrativa e como
campo da reconstrução da história simbólica e
mitológica de ocupações pretéritas, característica
dos primeiros momentos da arqueologia.
Estes inícios são sucedidos por uma adaptação
de modelos geográcos e uma percepção das
paisagens em relação a manifestação material
e da organização humana, sendo possível
identicar momentos de valoração dos ambientes
e a identicação das relações econômicas entre
seres humanos e o ecossistema e de enclaves
ambientais que mesclam biograas locais e
comportamento social.
As pessoas criam lugares através de
suas experiências com o meio (tangível
e intangível), dando signicados a eles
e produzindo conhecimento sobre os
mesmos. Os lugares tem uma dimensão
individual e social, bem como agência para
modelar e inuenciar as ações das pessoas.
Os lugares são irremediavelmente ligados
à história e à memória das pessoas e, por
isso, podem também assumir dimensões
Alex De Barros
CHAKIÑAN. Revista de Ciencias Sociales y Humanidades / ISSN 2550 - 6722 223
políticas e identitárias. (Silva 2013:31)
Consecutivamente, temos um amplo
desenvolvimento da disciplina na arqueologia
moderna, voltada mais para a quanticação
e caracterização ecológica das paisagens por
parte dos processualistas, acompanhada por uma
virada ontológica no que diz respeito a atuação
de investigadores pós-processuais, onde o lugar
é abordado em uma miscelânea de perspectivas,
incluído a arqueologia comportamental,
antropologia, cosmologia e fenomenologia,
teoria social contemporânea, geograa, história,
etnohistória e arquitetura (Zedeño & Bowser
2009).
A partir desta conjectura, não é plausível
seguir com a prática arqueológica sem levar
em consideração a questão das paisagens e
dos lugares, pois independente do contexto,
os fenômenos comportamentais invólucros a
produção da materialidade ocorrem em um
espaço/lugar, e este lugar exerce uma agencia
direta em relação a atividade humana.
Em contrapartida, é plausível armar que
independente da premissa, escola e conceito, a
temática das paisagens deve sempre ser levada
em consideração nas interpretações da ciência
arqueológica, ademais da falta de diálogo
entre as diferentes escolas, fenômeno este que
sem dúvida diculta o avanço da pratica das
paisagens e lugares, e que no caso brasileiro
e da américa latina em geral, ocasionou uma
melhor pratica dada a convivência entre
diferentes epistemologias no que diz respeito a
interpretação da alteridade local e dos avanços
da arqueologia.
DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE
INTERESSES: O autor declara não ter qualquer
conito de interesse.
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